quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

trilha sonora por Nelo Johann

É com muita honra e grande prazer que devo anunciar que o Descalça ganhou mais uma estrela.
A trilha sonora, uma das partes mais importantes no processo de finalização de um filme, será composta por um grande artista, o Nelo Johann.

Nelo Johann é um cantor/compositor e multiinstrumentista de 26 anos, de porto alegre, brasil. ..ele publicou 13 álbuns caseiros e 3 EPs desde 2001 e recentemente compôs e executou a trilha sonora do longa-metragem "os famosos e os duendes da morte", um filme de esmir filho. ..
todos seus álbuns estão disponíveis para stream e download no sítio http://nelo.4shared.com.

Você pode ouvir mais coisas dele no http://www.myspace.com/bangbangjesus

Uhuuuuuuuu!
Vamo que vamo que o show não pode parar!

Edward Hopper








A busca pelo vazio e pela solidão.

Canção de Mim Mesmo


Quero ouvir o que foi dito
Nos lugares que eu já fui
Memória que eu desacredito
O que poderá ser reescrito?

Fora da cidade
Ela procura a esmo
E eu já não sou mais o mesmo
Fora da cidade
Ela procura
Eu já não sou mais eu mesmo

Na casa há dentro outra casa
Vazio do tempo
Tempo que restou
Essa não é mais casa
Por onde eu caminho
Por onde estou
Onde eu estive, onde estou?
Cheguei onde nada mais restou

Agora não importa mais ser herói
Nem ter a memória que corrói
E que sem saber destrói
Hoje penso no meu dia se ele constrói

Já não mais corro ligeiro
Pra ser imperador, guerreiro
Ando por aí, sou estrangeiro
Percorrendo um roteiro
Pra surgir de novo inteiro

(Walt Whitman)




Last Day Dream - Chris Milk

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

E além de tudo...

...hoje é dia de reunião de montagem e pós-produção.
Logo logo estaremos com um primeiro corte do filme, que vai correndo pra trilha.
Também vamos começar a arte do cartaz, que já está pensado. Falta só transformar a idéia em imagem.

Dentro de alguns dias começaremos a divulgar os teasers!

Grandes emoções...

making of - Ateliê

















terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tainá Müller - A atriz


Quando comecei a escrever o roteiro, sempre esteve claro pra mim que a Laura deveria ser clara, magra e ter cabelo castanho escuro.

Nesse primeiro momento, o roteiro do Descalça era muito diferente de como ficou no final. Eu não buscava uma narrativa clara, mas sim uma espécie de poesia visual, e foi então que surgiu a Carol, uma artista, não atriz, que reunia todas as características que eu via como fundamentais para a Laura. Com o passar do tempo e após alguns ensaios com câmera, o roteiro mudou mundo e começou a percorrer um novo caminho, mais dramático, mais denso e que exigia cada vez mais da atriz.

Foi então que 1 mês antes de filmar, chegamos à conclusão que o filme pedia uma atriz e saimos em busca dela. Eu, por minha vez, já tinha sentido que precisaria de reforço na direção da atriz. Foi ai que entrou o Lucas Brandão. Sem ele não teriamos mergulhado tão fundo e com tanta segurança. Em uma das reuniões, o Gui, meu assistente de direção sugeriu a Tainá Muller. Achei uma excelente idéia, mas no dia seguinte, em meio a tanta correria, o nome me fugiu da cabeça e passei uma semana olhando fotos e caçando Lauras. Na sexta-feira o Gui voltou a falar da Tainá, na mesma noite eu consegui o telefone dela com a Bel e a Fê e no sábado liguei pra ela. Mandei o roteiro e alguns dias depois combinamos de nos encontrar.

Naquele instante eu sabia que eu tinha encontrado a Laura e o processo todo de criação e desenvolvimento dessa personagem foi uma das experiências mais mágicas que já vivi.

E esse processo nós vamos conhecer dividido em três partes.
A visão do preparador da atriz
A visão da diretora
A visão da atriz.

Tainá Muller é Laura, que é um tanto Dora.
Laura é Tainá Muller e também é Dora.
E foi nessas que a gente se misturou e agora um pedacinho meu vai estar pra sempre com ela.

Obrigada, Tainá.
Você é uma atriz e uma artista maravilhosa!

A equipe


"Descalça" é um projeto de conclusão de curso da turma de Cinema da FAAP de 2006.
19 roteiros foram entregues para uma banca de professores que após assistirem ao pitching dos projetos, escolheram 5 deles para que fossem produzidos ao longo do 7º e 8º semestres.

Além do Descalça, os outros roteiros selecionados foram:
Visite Decorado - Marcella Sneider e Keren Almeida
O Despertar da Primavera - Andradina Azevedo e Dida Andrade
Conatus - Gustavo McNair
Uma Noite em Sampa - André Ladeira

Uma vez selecionados os projetos, cabe a nós, alunos, formar as nossas equipes, que obrigatoriamente devem ter diretor, produtor, fotógrafo, diretor de arte, montador e som direto.

A equipe do Descalça ficou assim:
Direção e Roteiro: Dora Pessoa
Direção de Fotografia: Leo Zaia
Direção de Arte: Marcel Badan
Direção de Produção: Fabricio Gallinucci
Som: Glauber Boleli
Montagem e Ass. de direção: Guilherme Severo

Além desse time composto pelos alunos do 7º, contamos também com a ajuda de diversos assistentes, todos eles de semestres mais abaixo do nosso, o que possibilita uma grande troca de conhecimento e favorece uma experiência de set para aqueles alunos que ainda estão no começo do curso.

Sem contar na quantidade de pessoas que pouco ou nada tinham a ver com a Faculdade e mergulharam no filme de cabeça. Sergio, parceiro e imprescindível na gestação e na gestão do filme, Heitor Dhalia e Vera Egito, que apoiaram o projeto desde o início e se tornaram co-produtores do mesmo, Cássia, que cuidou da gente com muito amor, Claudinha, diretora de arte maravilhosa e de uma sensibilidade ímpar que além de ter participado diariamente, nos ensinou muita coisa, e um sem fim de pessoas sem as quais nada disso aconteceria.

Em breve entrarei em detalhes ao falar de cada uma das equipes e etapas do processo.
Agora, nesse comecinho de blog, o que eu quero mesmo é agradecer à todos eles por terem feito parte disso, por terem topado, por terem curtido, por terem acreditado e por terem ajudado.

Obrigada, equipe!
Obrigada, descalços!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

luz, câmera, ação!

Conceito de Direção


É mágico e transformador trabalhar com as memórias, com o que somos todos nós. Devaneios, sonhos, pesadelos, memórias. Tudo é parte do que somos e fomos. É o que nos torna humanos. É o que nos permite crescer. E nos permite seguir. Nos conhecer melhor como pessoas. Entender os passos de nossa família, para firmar melhor nossos próprios passos. Continuidade. E entendimento. Devaneio. Pés firmes no chão. Pés pro ar. Nos deixar levar.

As vezes uma abertura para essa dimensão de tempo se dá através de cheiros, outras vezes são fotos. No caso de Laura, o que a leva diretamente a seu passado é um disco que fora gravado por seu avô em uma de suas viagens à Nova York. E ouvir o "disquinho" abre essa dimensão de tempo... Em que existiu aquele momento para que ela exista... De certa forma o passado se torna presente. O tempo é, simplesmente.

Descalça é mais que um filme sobre resgate ou passado. É um filme sobre um amor incondicional ao que se é, ao que se foi. É uma poesia visual sobre uma jovem que se depara com sua casa inicial, esse ninho que durante pouco tempo lhe trouxe segurança e estabilidade, o lugar mais significativo de sua história, onde por apenas 5 anos teve a oportunidade de ter contato com aqueles que a trouxeram aos mundo e que tanto de si lhe doaram. Laura e sua casa se descobrem mutuamente, uma complementando e surpreendendo à outra.

Dotado de sensações e buscando a exclusão dos diálogos, Descalça, um curta metragem de 13 minutos, delineia a trajetória de uma personagem que encontra com seus monstros do passado e traz ao primeiro andar de sua vida, memórias e sentimentos até então desconhecidos. É o seu momento de auto-conhecimento. É agora que Laura mergulha nela mesma e enfrenta todos os seus medos, para que assim possa firmar seus pés no chão e seguir seu próprio caminho.

O filme possui duas personagens principais, que se misturam e se completam, uma não existindo sem a outra, sendo elas Laura, e a casa.

A casa de Laura é a grande guardiã de todas as suas memórias, sonhos e devaneios. É nesse ambiente que ela, Laura, se depara com seu passado, onde ela passa a se conhecer como nunca antes tivera feito. A relação de ambas no início se dá com um certo desdém. Laura não lhe dedica muita atenção, enquanto a casa por sua vez, reserva seus maiores segredos para os momentos que ainda estão por vir.

Quando Laura machuca o pé, abre-se também dentro dela uma grande ferida. Ferida esta que esteve presente também na casa durante todos esses anos. Agora é o momento que Laura mergulha em seus próprios mistérios e juntas elas renascem com ainda mais força.

Segundo Gaston Bachelard em seu livro “A poética do espaço”, pelos sonhos, as diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam tesouros dos dias antigos. A casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz. Só os pensamentos e as experiências sancionam os valores humanos. Sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela o mantém através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. E sempre, nos nossos devaneios, ela é um grande berço.

Algumas referências de direção são os filmes O Espelho, de Tarkovski; A Mulher sem Cabeça, de Lucrecia Martel; Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes; A Liberdade é Azul, de Kristof Kieslovski. Todos eles trabalham diretamente com a angustia de seus personagens, que enfrentam momentos de total abstração da realidade e perda de seus sentidos em função de imagens intermitentes de sua memória e crise profunda com o cotidiano.

O filme se divide em quatro situações: realidade; devaneios; memórias e sonhos, sendo que para caracterizar cada um deles, optamos por dar-lhes nuances que correspondem às estações do ano: primavera; verão; outono e inverno respectivamente. Dessa forma, criaremos um ambiente específico para cada situação, dando-lhes assim uma unidade de artística e fotográfica.

No início do filme, a casa está escura e abandonada. Há muitas caixas espalhadas pela casa, as janelas ficam quase sempre fechadas, há muita poeira por todos os lados. Laura ainda não teve coragem de acessar alguns lugares da casa, criando um bloqueio para evoluir e tocar a sua vida. O agente transformador da personagem, o que a leva a iniciar a sua jornada é o disco que encontra entre a bagunça. É nesse momento que os sonhos, memórias e devaneios começam a aparecer subitamente e aos poucos a levam a iniciar toda uma transformação não só interior, como também exterior, o que poderá ser visto também na decoração da casa.

As memórias, sonhos e devaneios serão trabalhadas de forma não menos cuidada, mas mais livres e soltas. Existe uma leveza e espontaneidade criadas para esse momento que nunca se darão na vida real da personagem.

Os devaneios, correspondentes ao verão, são momentos em que a realidade se mistura com a imaginação da personagem. Eles serão gravados em suporte digital e sua principal diferença em relação à realidade é o contraste, que será muito superior, realçando as cores e a luminosidade do ambiente.

As memórias, correspondentes ao outono e seus tons de terra, serão capturadas também em suporte digital e posteriormente tratadas no After Effects para que dessa forma tenham a textura e intensidade de cor necessárias para a nossa narrativa. As memórias remetem diretamente ao passado da personagem e tudo aquilo que lhe é remetido graças ao seu contato com a casa e com o que nela está escondido. Conforme Laura se depara com caixas, fotos e objetos do passado, suas memórias afloram e ela se encontra com tudo aquilo que um dia optou por deixar para trás. Nesse momento contaremos com uma atriz mirim que fará o papel da Laura pequena e que será o nosso grande foco de atenção. O que buscamos como imagens de memórias são situações simples porém marcantes. É o ordinário que se manifesta como crucial nas lembranças de Laura.

Os sonhos, referentes ao inverno, serão os momentos mais confusos, sombrios e angustiantes que passam pela mente de Laura. O suporte utilizado para o mesmo é o stopmotion, que nos permite a elaboração de situações mais surreais e que propicia a criação de elementos lúdicos capazes de ganhar vida e interagir diretamente com Laura em diversas situações.

Cosecha de la Nada

Hay quienes imaginan el olvido
como un depósito desierto / una
cosecha de la nada y sin embargo
el olvido está lleno de memoria

hay rincones del odio por ejemplo
con un rostro treinta veces ardido
y treinta veces vuelto a renacer
como otro ave fénix del desahucio

hay arriates de asombro
con azahares sedientos de rocío /
hay precarias lucernas del amor
donde se asoman cielos que fueron apagados
por la huesuda o por la indiferencia
y sin embargo siguen esperando

aunque nada ni nadie los desangre en voz alta
ni el desamparo ni el dolor se borran
y las lealtades y traiciones giran
como satélites del sacrificio

en el olvido encallan buenas y malas sombras
huesos de compasión / sangre de ungüentos
resentimientos inmisericordes
ojos de exilio que besaron pechos

hay quienes imaginan el olvido
como un depósito desierto / una
cosecha de la nada y sin embargo
el olvido está lleno de memoria


Mario Benedetti

Postcards from Italy - Beirut




De onde veio o primeiro insight.
Depois de ter visto esse clipe, escrevi 0 primeiro esboço do Descalça.
As imagens são mágicas e a música é hipnotizante.

depois de muito tempo...


Já fazia algum tempo que eu ensaiava criar esse blog. O Descalça já está fazendo 2 meses de vida e até agora pouco haviamos feito por ele além de começar a montar.

Mas a gente bem sabe que um filme não é apenas dedicação exclusiva ao material, mas também o que podemos mostrar dele pro mundo antes que de fato ele esteja pronto. Tantas pessoas acompanharam o desenvolvimento do projeto, muita gente participou, muita gente apoiou. Nada mais justo do que criar esse canal onde todos podem saber o que vêem acontecendo, a quantas anda o projeto e o que estamos fazendo pelo filme.

A partir de agora começarei um diário Descalça, onde relatarei todo o processo de "fabricação" do curta, começando com as influências, as referências, as idéias originais, poemas, quadros e fotos que me inspiraram, relatos sobre a pré-produção, filmagem e o dia a dia complexo da pós-produção. Agora ninguém mais fica de fora!

Acompanhe por aqui todas as nossas novidades.

Dora Pessoa - Diretora do Descalça