Pequeno depoimento sobre um filme feito de memória e amor.
Quando sentei no meu restaurante favorito da Rua Tupi, cara a cara com a menina de voz decidida que dias antes me ligou para falar do "Descalça", tive certeza de que esse seria um pequeno grande projeto. A Dora é uma daquelas pessoas que falam com os olhos e os dela me deram um depoimento muito sincero. Isso bastou para que eu aceitasse o convite, não só de fazer um filme, mas de embarcar em uma viagem coletiva ao passado que mais nos toca, às velhas feridas abertas, à poesia sensorial do que vivemos e, inevitavelmente, carregamos por toda a vida.
Já no primeiro ensaio conheci o Lucas Brandão e assim nossa tríade partiu para um mergulho onde qualquer técnica ou receita de preparação de atores cedeu ao encanto de longas conversas confessionais, alimentadas por fotos, livros, cartas e, é claro, filmes. De uma hora para outra, éramos como melhores amigos conversando displicentemente sobre todas as coisas da vida, ora adolescentes entregues a ataques de riso, ora jovens adultos já calejados, revisando com uma certa melancolia a própria história. E assim resolveu-se por si só que seria esse o nosso processo. Três crianças deram as mãos e se jogaram do trampolim. Nada além de nós mesmos, das coisas que acontecem, de tudo que está aí e que a gente esconde debaixo do travesseiro. Simples assim.
Quando começou a filmagem foi tudo tão natural, tão íntimo, que nada além do necessário precisou ser feito. No primeiro encontro da equipe, chegou a hora de todos também darem seu depoimento e então fiquei emocionada em saber que não estava só. Todos aqueles jovens e promissores talentos do cinema resolveram colocar no meu saquinho de "material de trabalho", um punhado de matéria-prima. Formamos uma unidade e me senti privilegiada por ser a representante daquilo tudo, a cara de todos aqueles sonhos, lembranças, saudades e paixões. É por trabalhos como esse, tão despretensiosos como um curta universitário e tão ricos de significado, que resolvi ser atriz e fazer cinema. O registro eterno do momento que se esvai. A memória aprisionada do que nos faz humanos.
Estou ansiosa para ver o resultado. Mas quer saber? Acho que esse é um filme que foi feito com tanto amor e verdade, que não há culpa possível sobre o efeito que causará. Ele é isso e pronto. Ele é um auto-retrato do que somos, ou melhor, do que fomos, naquele momento.
por Tainá Müller
Quando sentei no meu restaurante favorito da Rua Tupi, cara a cara com a menina de voz decidida que dias antes me ligou para falar do "Descalça", tive certeza de que esse seria um pequeno grande projeto. A Dora é uma daquelas pessoas que falam com os olhos e os dela me deram um depoimento muito sincero. Isso bastou para que eu aceitasse o convite, não só de fazer um filme, mas de embarcar em uma viagem coletiva ao passado que mais nos toca, às velhas feridas abertas, à poesia sensorial do que vivemos e, inevitavelmente, carregamos por toda a vida.
Já no primeiro ensaio conheci o Lucas Brandão e assim nossa tríade partiu para um mergulho onde qualquer técnica ou receita de preparação de atores cedeu ao encanto de longas conversas confessionais, alimentadas por fotos, livros, cartas e, é claro, filmes. De uma hora para outra, éramos como melhores amigos conversando displicentemente sobre todas as coisas da vida, ora adolescentes entregues a ataques de riso, ora jovens adultos já calejados, revisando com uma certa melancolia a própria história. E assim resolveu-se por si só que seria esse o nosso processo. Três crianças deram as mãos e se jogaram do trampolim. Nada além de nós mesmos, das coisas que acontecem, de tudo que está aí e que a gente esconde debaixo do travesseiro. Simples assim.
Quando começou a filmagem foi tudo tão natural, tão íntimo, que nada além do necessário precisou ser feito. No primeiro encontro da equipe, chegou a hora de todos também darem seu depoimento e então fiquei emocionada em saber que não estava só. Todos aqueles jovens e promissores talentos do cinema resolveram colocar no meu saquinho de "material de trabalho", um punhado de matéria-prima. Formamos uma unidade e me senti privilegiada por ser a representante daquilo tudo, a cara de todos aqueles sonhos, lembranças, saudades e paixões. É por trabalhos como esse, tão despretensiosos como um curta universitário e tão ricos de significado, que resolvi ser atriz e fazer cinema. O registro eterno do momento que se esvai. A memória aprisionada do que nos faz humanos.
Estou ansiosa para ver o resultado. Mas quer saber? Acho que esse é um filme que foi feito com tanto amor e verdade, que não há culpa possível sobre o efeito que causará. Ele é isso e pronto. Ele é um auto-retrato do que somos, ou melhor, do que fomos, naquele momento.
por Tainá Müller